Covid-19 deve gerar impacto de R$ 1,4 bi
nas despesas das autogestões
A pandemia do novo coronavírus terá reflexos consideráveis em todos os setores; sobretudo, na saúde. Segundo informações da UNIDAS –Autogestão em Saúde, com os dados que já dispomos atualmente é possível estimar aumento de custo, em média, de pelo menos 6% da receita, o que equivaleria a R$ 1,4 bilhão, considerando a receita das autogestões de 2019. Nas carteiras mais envelhecidas – com 50% de idosos – a despesa extra pode chegar a 10% da receita.
O levantamento é com base em análise de relatório da Credit Suisse feito com operadoras de mercado, que aponta impacto sobre a receita de 1% a 2,6% da receita, levando em consideração o número de usuários dessas empresas com mais de 65 anos (5%) e a probabilidade de infecção (50% deste público) e internação (10% dos infectados) de UTI por um período de 14 dias. A Prevent Sênior, com 64,5% de sua população acima dos 65 anos, teria impacto de 11,3%. Nas autogestões, a quantidade de idosos presente nas carteiras de beneficiários é de quase 30%. Em alguns planos, este percentual chega a 50%.
“A Credit Suisse não calculou os reflexos da crise nos planos de autogestão, mas ponderando valores intermediários entre a Prevent Sênior e as demais operadoras de mercado, podemos aferir esse custo extra estimado. Além disso, apesar de o futuro ainda ser incerto quanto aos impactos, alguns fatores já permitem uma análise mais macro. Enquanto cirurgias eletivas estão sendo postergadas, há de imediato uma redução da despesa assistencial. Porém, ela será fatalmente superada pelo custo do tratamento para a Covid-19, no qual os idosos, mais afetados pelo vírus, consumirão mais recursos hospitalares, inclusive diárias de UTI”, analisa o presidente da UNIDAS, Anderson Mendes. “Além disto, ainda sofreremos o impacto da realização dos procedimentos represados, que serão reagendados após o pico da epidemia”, complementa.
Como até o fim do ano passado, a doença era desconhecida, esta situação não foi prevista em nenhum cálculo atuarial das operadoras, muito menos seu impacto nos sistemas de saúde, tanto público quanto privado. Sem esta previsibilidade, é alto o risco de desequilíbrio nos planos de saúde de autogestão, pela insuficiência de reservas financeiras para catástrofes desta natureza. “Esta situação vem de algumas características de nossas filiadas: não têm fins lucrativos; trabalham com uma carteira com número elevado de idosos; além de terem dificuldades de ampliação de receita por diversos fatores, trazendo então a sinistralidade mais alta do setor (relação de receita X despesas assistenciais)”, ressalta Mendes. Um plano de mercado trabalha com a sinistralidade, em média, abaixo de 80%. No caso das autogestões, a média é de 90%.
A inadimplência e redução de patrocínios também são fatores que rondam o segmento. “Há uma previsão reocupante no que tange à redução de salários e de postos de trabalhos, o que trará um reflexo direto nas receitas das operadoras”. As autogestões trabalham exclusivamente com planos coletivos, ligados diretamente a categorias profissionais, na indústria, serviços, comércio, administração pública, entre outros. Setores que estão sofrendo com a crise econômica, o que pode comprometer a condição de pagamentos de beneficiários e patrocinadores.
Segundo o presidente, em uma análise mais ampla, o desequilíbrio financeiro das autogestões pode colocar em risco a sustentabilidade do setor da saúde suplementar como um todo. Segundo a ANAHP – Associação Nacional dos Hospitais Privados, as autogestões são responsáveis por 50,74% da receita bruta, oriundas de planos de saúde,
nos hospitais do Nordeste, por exemplo. Nas regiões Norte e Centro-Oeste este percentual é de 41,17%, 26,34% no Sudeste e 17,86% no Sul. Diante deste cenário, Mendes defende amplo diálogo entre todos os atores do setor, incluindo iniciativas públicas e privadas. “O compartilhamento de soluções é fundamental e, mais do que nunca, é hora de união e solidariedade entre operadoras, prestadores de serviços e governos. O momento exige serenidade e transparência, pois não temos ideia de quanto tempo esta situação irá perdurar”, finaliza.