Anderson Mendes fala na abertura do 14º Seminário UNIDAS
Brasília, 26 de abril de 2023 – O 14º Seminário UNIDAS começou na manhã desta terça-feira, 25, no CICB – Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília, com discussões em torno de equidade, doenças raras, futuro do sistema de saúde no Brasil, incorporação sustentável de tecnologia, equidade e o atual modelo de saúde. Com o tema “Por mais integralidade e equidade na saúde”, a abertura oficial foi feita pelo Anderson Mendes, presidente da UNIDAS. O evento contou com recorde de participação – mais de 900 inscritos presencialmente, além da audiência que está acompanhando online.
“Nesse Seminário, queremos discutir a estratégia, as políticas de saúde e pensar em um modelo ideal para termos uma população mais saudável. Hoje temos mais de R$ 18 bilhões em déficits operacionais, estamos em um momento de imprevisibilidade em que falta a busca pela eficiência e um maior controle, não sabemos com o que iremos nos deparar. É preciso pensar em qual estratégia iremos adotar para termos um cuidado maior com as pessoas. Essa, inclusive, deveria ser a pergunta dos beneficiários e não qual a rede credenciada que o plano oferece”, afirmou.
Mendes também ressaltou a importância de se repensar radicalmente a estrutura do setor hoje. “Precisamos descontruir o que temos hoje para construir um modelo diferente. E nós, gestores e colaboradores, também temos que nos modificar. Ter a humildade em reconhecer que ninguém faz nada sozinho”. O presidente da UNIDAS também destacou que não há uma única solução para o momento que a saúde suplementar vive – o setor teve um prejuízo operacional de aproximadamente R$ 11,5 bilhões em 2022. “A saúde suplementar vai se transformar: seja na saúde ou na dor, mas sempre em busca do melhor, mesmo porque nossa missão é cuidar da saúde das pessoas. Esse é nosso papel”.
Mesa redonda – Futuro do sistema de saúde no Brasil: o tema da primeira mesa redonda do dia foi “O Futuro do Sistema de Saúde no Brasil”. Tendo como moderador o presidente da UNIDAS, Anderson Mendes, a discussão reuniu Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge); Glauco Samuel Chagas, superintendente executivo da Unimed do Brasil; Paulo Rebello, presidente da Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANS); e Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde).
A superintendente da Fenasaúde iniciou a discussão destacando que o ano de 2022 foi muito preocupante para a saúde como um todo porque houve um prejuízo operacional muito grande e que não adianta ter lucro financeiro de aplicação de fundos de reserva. “A avaliação das nossas operadoras é que resolver a situação levará dois anos, mesmo com estratégias mais certeiras. É urgente rever custos. As despesas assistenciais estão altíssimas e as fraudes tomaram uma dimensão enorme durante a pandemia. Quem paga a conta não são os planos, são os beneficiários. Falta compreensão dessa lógica”, destacou Vera Valente.
Para Renato Casarotti, da Abramge, estimular a liberdade de escolha na saúde é um erro que estimula o desperdício e desequilibra o sistema. “Criamos uma cultura que vende liberdade de escolha, mas na saúde isso fragmenta a assistência e não entrega o melhor valor ao paciente. As autogestões têm a vantagem de ter uma fidelidade maior, mas ainda assim compartilham também a dor do setor, que paga pelo desperdício”, afirmou.
Glauco Samuel Chagas, da Unimed do Brasil, destacou que operar um plano de saúde no futuro não é algo simples e não há uma alternativa única. Para ele, é preciso haver uma troca de experiência que pode gerar caminhos para trabalhar juntos. “A situação nesse momento é delicada; se olharmos para trás, estamos há 21 meses com resultado operacional negativo na média das operadoras de saúde. Precisamos tomar algumas medidas mais fortes em um curto espaço de tempo. Como operar plano de saúde era feito pelo risco calculado, tínhamos tempo para buscar recursos hoje, com o rol flexível não conseguimos calcular o risco que teremos”, afirmou.
Para o presidente da ANS, Paulo Rebello, a falta de dados e informação é um entrave para encontrar soluções setoriais. Segundo ele, falta diálogo entre os agentes. “O mundo está em transição, com inovações tecnológicas, sociais, econômicas sem velocidade precedente. Precisamos de fato dialogar, ver os pontos convergentes e tentar amenizar para o bem de todos. Cada um dentro da sua realidade tentando encontrar a solução para seus problemas. Mas estamos em um momento único de todos se juntarem, se reunirem”, disse.
Entre iniciativas setoriais conjuntas, o presidente da UNIDAS destacou a inauguração do 14° Centro Compartilhado de Atenção Primária à Saúde (ASP), um projeto conjunto de diversas operadoras de autogestão. “Além dos centros de APS, em janeiro também inauguramos o Centro de Infusão Compartilhado em Belo Horizonte. Essa iniciativa conjunta está rendendo uma economia de até 20% nesse tipo de serviço. Contudo, vale reforçar que precisamos ganhar escala nas soluções propostas, para que elas realmente possam fazer a diferença nas contas do setor”, afirmou.
Palestra – Repensando o modelo de saúde: ex-ministro da saúde e médico, Nelson Teich, falou sobre Modelo de Saúde baseado em dados, proporcionando uma reflexão a todo o público presente. “A informação e a gestão não acompanharam a evolução da inovação e do custo dos sistemas de saúde. Precisamos entender que a inovação aumenta a desigualdade porque cada vez mais ela está disponível para um número menor de pessoas. Com isso, você também tem um agravamento do financiamento. E como não temos novos modelos para pagar a conta, a saúda fica cada vez mais cara e inacessível”, afirmou Teich. Para ele, a inovação sempre existiu e não é ela que vai trazer mais eficiência e equidade. “Esse é o papel de gestor. Não existe um modelo de remuneração ou estratégia administrativa que compense a falta de recurso financeiro e a capacidade para pagar”, destacou o oncologista.
Painel – Integração público-privada: o painel “Integração Público-Privada” discutiu modelos conjuntos de atuação no setor e como uma saúde pública de qualidade também impacta positivamente a privada. Paulo Roberto Lopes Corrêa (médico Epidemiologista e Diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte) e Bruno Pereira (especialista em concessões abordaram o tema com a moderação de Denise Eloi, CEO Instituto Coalizão Saúde (ICOS) foram os responsáveis por discutirem o tema. Bruno, que tem dez anos de experiencia em PPP´s, ressaltou que o maior desafio brasileiro é o gasto público de qualidade. “Um dos principais problemas é o mau uso de recursos públicos e a qualidade com que se gasta esse recurso. Essa disfunção ocorre porque temos um volume enorme de licitações anualmente e uma lei que foca em parcerias de longo prazo – em média, 35 anos”, afirmou. Para ele, as PPP´s podem ser uma maneira de melhorar a assistência pública e privada de saúde.
Paulo Roberto dividiu a experiência que teve enquanto diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH) durante o processo de vacinação da população na pandemia de covid-19. “Não há uma pessoa que não use serviços do SUS e, a prestação de tais serviços é dever inafastável do Estado. Isso, contudo, não deveria afastar a saúde privada das discussões de promoção de saúde”, afirmou, relembrando a importância do mecanismo de PPP´s nas vacinações em massa – tanto do H1N1 em 2009 quanto no surto de Sarampo ocorrido em 2018 na capital mineira.
Lançamento do selo UNIDAS: a entidade lançou ainda seu posicionamento para 2023: “Liderando o futuro da Saúde Suplementar”. Para isso, criou um selo que foi apresentado para o público pelo Diretor de Integração da UNIDAS, Werner Dalla. “A UNIDAS representa hoje 80% da saúde suplementar e esse selo é um reconhecimento que fortalece a ratifica nossa comunidade. O selo indicará a participação da entidade junto as iniciativas, projetos, compartilhamentos propostos e organizados pela UNIDAS para as próprias filiadas e para o mercado”.
Painel- Incorporação sustentável de tecnologia: no segundo painel do dia, Regina de Arruda Mello Blanco, gerente executiva de saúde na Vivest, foi a moderadora do debate, destacando a importância deste tema, que envolve as tecnologias como um todo. “Como pessoas, queremos a incorporação dessas tecnologias e que alguém subsidie essas tecnologias. Porém, quando discutimos a incorporação sustentável, falamos como setor e pode parecer que estamos longe das pessoas, mas não é verdade.” O painel teve palestras do Dr. Martin Bonamino, pesquisador do INCA e especialista da FIOCRUZ; Alexandre Fioranelli, diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS; e da Dra. Maria Alice Mello Chaves, médica auditora na AMAGIS Saúde e diretora técnica da Superintendência de Minas Gerais. Ela, inclusive, ressaltou que é preciso avaliar a incorporação sustentável da tecnologia na visão das operadoras. “Várias tecnologias são incorporadas com o mesmo objetivo e custo diferente, isso gera para nós um impasse em relação a qual ser implantada”, destacou.
Alexandre Fioranelli explicou que a avaliação de tecnologias em saúde (ATS) leva em consideração se essa tecnologia é efetiva e se melhora, de forma relevante, os resultados em saúde. “Analisa também se é possível assumir o custo adicional dessa nova tecnologia, considerando a sustentabilidade do setor, se as necessidade e perspectivas dos pacientes estão sendo levadas em conta e se existe estrutura organizacional, recursos físicos e/ou humanos para promover a tecnologia em questão.”
Já o Dr. Martin Bonamino abordou os desafios na incorporação de terapias avançadas e o papel da ANVISA. “A terapia celular no Brasil vem evoluindo há tempos, desde a infusão de linfócitos até as células que são modificas geneticamente. E, falando em oncologia, temos o Car-T Cell que vem ganhando destaque. Entre os desafios dessa incorporação estão a precificação, o custo-benefício (já que é um tratamento único, diferente da maioria que é continuado), os modelos de reembolso e a duração do benefício”, complementou.
Painel: Apresentação dos trabalhos ganhadores prêmio UNIDAS: para encerrar o primeiro dia do Seminário, o conselheiro da UNIDAS e vice-presidente da ELOSAÚDE, Alexandre Silva, conduziu a apresentação dos trabalhos vencedores do Prêmio UNIDAS. Na categoria filiadas, João Paulo dos Reis Neto, presidente da CAPESESP, detalhou o estudo vencedor da premiação. A entidade analisou os custos de tratamento do câncer em toda a sua jornada e o impacto dos valores na realidade da operadora. “As terapias moleculares e imunológicas revolucionaram o tratamento do câncer e melhoraram os resultados e a sobrevida dos pacientes. Mas é preciso minimizar o impacto financeiro das novas tecnologias por meio de uma gestão responsável baseada em evidências científicas. É fundamental para manutenção da sustentabilidade do sistema, em particular, nas autogestões, cujo perfil etário populacional é o mais elevado de todos os segmentos da saúde suplementar”, afirmou o presidente da entidade vencedora.
Já a diretora de Previdência e Assistência da CAPESESP, Juliana Martinho Busch, apresentou o estudo realizado pela operadora sobre a evolução do custo da terapia imunobiológicas nos últimos dois anos, que ficou em segundo lugar. “No período analisado, o tratamento aumentou cerca de 38% por cada paciente e o impacto sobre o per capita da carteira dobrou. É preciso repensar os modelos de remuneração de modo a permitir a sustentabilidade do setor e a ampliação dos acessos a essas tecnologias”, disse.
Jaqueline Aparecida da Silva Xavier, gerente de Saúde e Supervisão da Cemig Saúde, mostrou a importância dos cuidados paliativos e de se desmitificar o tema – estudo classificado em terceiro lugar no prêmio UNIDAS. “Analisamos a implementação da linha de cuidados paliativos por meio da metodologia NEWPALEX. Esse é um tema que precisa ser visto com sensibilidade, mas sobre o qual também precisamos analisar redução do desperdício e redistribuição dos custos por níveis de atenção”, afirmou.
Entre as não filiadas, o trabalho que conquistou o prêmio foi da Qualirede. Gizelli Aires Ribeiro Nader, diretora de estratégia da empresa, apresentou o estudo com perfil clínico de pacientes que evoluíram para óbito por COVID-19. “Trata-se de dados compilados durante mais de dois anos de pandemia em uma operadora com mais de 500 mil vidas. O estudo aborda as principais características clínicas e epidemiológicas dos pacientes que evoluíram a óbito, possibilitando ações preventivas para os principais grupos de risco”, disse
Programação prévia: antes da abertura oficial, o 14ª Seminário UNIDAS contou com duas trilhas de conteúdo. Na primeira, Ana Claudia Mendes, gerente de Excelência Operacional e coordenadora da Comissão de Qualidade e Governança da UNIDAS, apresentou o projeto que culminou na “Pesquisa de Maturidade em Governança Corporativa das Autogestões”. “Fizemos um questionário para que as filiadas fizessem uma autoavaliação sobre como está a governança nela. Avaliamos a governança corporativa sob diversos aspectos como contrato social, estatuto de governança, estrutura de reuniões, recomendações do conselho, canal de denúncia, gestão de riscos e controles internos e monitoramento econômico-financeiro e auditoria interna entre outros temas. Com os resultados em mãos, percebemos que as empresas, às vezes, têm as políticas, mas não disseminam essa cultura. Com esse diagnóstico, direcionamos melhor as ações da comissão”, destacou Ana Cláudia.
Depois da apresentação da comissão, foi realizado o Talks patrocinado pela Horizon Therapeutics “Equidade em saúde – Atenção em Doenças Raras”. O debate contou com a participação da Neurologista Priscila Proveti, e do neurologista e coordenador do centro de referência em tratamento de esclerose múltipla, Dr. Ronaldo Maciel Dias; da líder em Health Economics na Origin Health, Laura Murta; com a moderação de Roberta Arinelli, editora-executiva de Saúde da revista MIT Technology Review Brasil e diretora Médica da Origin Health.
Cada país tem sua classificação de doenças raras e no Brasil, segundo a ANS, essas enfermidades são aquelas que acometem 65 pessoas em cada 100 mil. “Estima-se que atualmente no Brasil haja 13 milhões de pessoas com doenças raras. Então, se analisarmos, não são tão raras assim”, afirmou Ronaldo Dias. Segundo o médico, a maioria das doenças raras são genéticas, acometem crianças e têm um atraso médio de quatro a cinco anos no diagnóstico tanto no setor público quanto no privado. Para Laura Murta, a equidade é importante para a sustentabilidade do setor. “Precisamos colocar o paciente no centro da atenção, ampliarmos os critérios de tomada de decisão, incluir a equidade no diagnóstico e tratamento e dar a devida importância a ela”, disse.